coisas da vida

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quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

Poema do fundo do poço

A poesia não é como muitos cuidam ser,
Canção de ninar para as crianças burguesas,
Nem rítimo a embalar o áureo berço dos príncipes,
Nem alvo de aplausos
Entre as cortinas e luzes da ribalta.

Não!
A poesia não é alimento à lascívia das "socialites",
Nem refrão para a dialética dos galantes,
Nem a musa dos loucos amantes,
Que o vate tanto exalta.


Antes a poesia tem que nascer qual lírio
no deserto;
Tem que fluir qual manancial trazendo do seio
Da terra
Subtâncias nilístas em vapores onívoros
Capazes de consumir
pra depois transformar,
E por fim,
renascer.

...Ser semente de germes telúricos...
Tem que ter a energia do pulsar
Dos espíritos;
Ecoar como o grito dos monstros
Do pântano;
Transmitir o terror que se esconde
No amor
E o veneno contido no nécta 
Da flor.


O poeta tem que emergir da lama das favelas,
Ser o óbulo a tremer entre as mãos do mendigo;
Ser o fogo da trempe do homem do campo,
Ser o nó que estrangula a gartanta do povo...

O poeta que bem interpreta esse mosntro
chanmado erroneamente "Homo Sapiens"
Que hoje domina a paisagem dessa terra
Com a mesma selvageria dos sáurios
Mesozóico...


Esse poeta tem que decer às sargetas das feiras,
E envolver-se na angustia fervente das massas,
E saber que realmente o Homem não é
O que assina decretos, 
O que vota projetos,
O que dar vereditos e assina sentenças.


Que o Homem não é o que prega no púlpito
Que decreta castigos no confessionário;
O que paga empregados, o que usa gravata
E que manda matar.


Pois o Homem habita no lodo dos guetos,
Alimenta-se dos restos do lixo das feiras,
Morre nas calçadas dos fundos da igreja,
E vai direto do limbo
por não poder pagar pra ir ao Céu.


Esse é o homem que sente, que chora, que geme;
Cuja vida se esvai no holocausto da fome,
Cujo grito retumba nos véus da agonia!
O poeta é o que canta o horror desse homem
Que já nem pensa mais... que só grita; só geme...
Esse poeta sou EU! ESTA É MINHA POESIA !...

              Poesia de Gutemberg Sousa Brasil 

                             Kainha Brito





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